quinta-feira, 31 de julho de 2008

Mimo pra Menina

O amor não pede explicações...
Mimo de Thiago Vasconcelos Marques pra Menina,
Lindo, lindo, lindo!

MENINA


Linda como o céu
Brilhante como o luar
Tesouro das estrelas
Olhos doces cor de mar

O que tens, menina?
Nesse olhar, nesse andar?
É um pulsar cor de flor?
É um encanto, meu amor?

Menina, correndo
Menina princesa,
Menina brincando
Menina pulando

És rosa,
És violeta,
Brilho de fogo e de sol

Recheada de amor
de chocolate e cereja

És minha pequena
minha linda morena!

[Thiago V. Marques]

Registro do amor à Menina

Simplesmente um jorro de palavras?
Não. Fragmentos de alma...
Alimentados pelo mesmo combustível

Registro do amor concreto (e líquido) de Cristiano José
para a Menina:

"Vai, vai
no embalo das palavras
fervendo idéias
multiplicando questões
dando vazão ao turbilhão dos questionamentos
que brotam sob forma de intensidade
nesta menina
então deixa brotar
como petróleo raro e rico
em meio ao mar ou ao deserto
sempre esperado para ser analisado
refinado, transformado
para se tornar combustível
combustível que faz mover os carros
mas as palavras da menina deveriam/ devem
fazer mover as idéias para o mundo unido
rico do ideal que todos almejamos
rico
simplesmente rico da intensidade,
da imensidade, da infinitude
da plenitude que é Ele!"

Falei.

[Cristiano José]

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Poesia de sexta

Sexta-feira é dia famoso, dia das pessoas amontoarem o cansaço adquirido durante a semana e o jogarem no lixo: o típico dia para sair em busca de alegrias. E também, para alguns, dia recolhimento, de oferenda, de sacrifício...

Acreditem: uma sexta-feira para a menina é bem mais que tudo isso, jamais será um dia qualquer.

É certo que todo dia é dia de alegria, de jogar fora o cansaço do corpo e da alma, de colher momentos únicos para recolhimento, para a oferenda. Contudo, sexta é ocasião mais-que-especial de nutrir aquele desejo íntimo de poesia.

Sim. Final da semana que também rima com poesia – seja em verso, em prosa, em paisagem, em oração, em canção ou em pensamento.

Final de sexta é poesia de trabalhador que vê sua missão cumprida e quer descansar, é poesia de casal que se ajeita para o encontro, poesia da criança que espera para brincar com os pais, poesia de quem aproveitou para estar com os amigos.

A poesia quotidiana dos aflitos e poesia solene dos que param pra contemplar o sol se pôr. A poesia que a menina deseja, para refrescar a cabeça, arejar a alma e acalmar os ânimos. Poesia que clama aos céus e estremece a terra, que abastece e renova a vontade de viver...

NonDevir: conversa filosófica

CONVERSA FILOSÓFICA I

Por a Menina e o maninho Cesar

Trataremos aqui de forma estupidamente subjetiva, vanguardista e manipulada sobre o conceito de Devir de Deleuse, criando o anticonceito de NonDevir, sem a menor preocupação em encontrar ou não pressupostos acadêmicos para a teoria que aqui abordaremos, em outras palavras, o negócio é bagunçar.

DEDICATÓRIA

Dedicamos este ensaio ao ilustre filósofo Thiago Marques, com muitos risos e alegria.

O NONDEVIR

Enquanto o Devir se mostra na mudança, na fluidez, nas intensidades, nos desejos, o NonDevir surge na certeza da não-vontade, do não-desejo, com leveza, risos, suavidade e muito bom-humor.

Para melhor entender o nondevir pode-se pensar na ligação que existe com o não-devir para devir, ou o não ser para o ser. É algo sutil, que reside entre o ir e o ficar. Vejamos bem: o devir é revolucionário, faz buracos, bagunça com o ser. O devir revolucionário se propõe a "quebrar", explodir as essências. Trocando em miúdos, sugere a destruição. O NonDevir é o devir como proposta para ele mesmo: é tirar do devir a sua lógica, negar a sua essência. A grande questão é saber se no momento em que um indivíduo está concentrado no seu devir, ele está devindo ou devendo? Por quê? Porque há uma diferença essencial em querer ir e precisar sanar uma dívida. No entanto, no caso do nondevir, ora ele pode querer ir, ora ele pode querer pagar. Do contrário, igualmente.

De fato, o ser humano pode apresentar ora o devir-mulher, ora o devir-macaco, ora o devir-rato, ora o devir-negro e assim por diante. Mas em outras ocasiões, sobretudo nas de necessidade, porque o humano se move na medida de seus extintos e necessidades, ocorre um distúrbio. Não se tem a essência, tem-se a dúvida... O nondevir passa para o devir sem que nos apercebamos.

Será que o meu nondevir tradutor acomoda consigo o devir tradutor? Evidentemente sim, pois o nondevir é amplo e ilimitado. Normalmente os organizadores dos eventos dizem há de vir um tradutor! O tradutor, no entanto, é capaz de assumir ao mesmo tempo o nondevir tradutor, negando-se a comparecer ao evento. Tudo isso porque a prática revolucionária molar, nada tem a ver com odontologia. Tem a ver com a negação das essências, com a transformação das formas, com o nondevir. Este ainda, pode estar intimamente ligado com o nãoquerer.

E por aí vai...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dia cinza

Tem dias que a menina acorda com azia da vida, mal que anti-ácido nenhum consegue resolver...

É tédio, é cansaço, é desânimo, é desprazer, é mal-humor, é um tudo-com-sono, é um tudo-com-nada, um tudo-sem-poesia-e-sem-criatividade. Horas que não servem para pensar nas coisas da vida, por sentí-la sem sentido, sem graça, sem cor, mediocremente...

Pode encontrar a angústia da fome sem ter fome e o frio do inverno no verão. O desprazer do ócio e do cansaço juntos, o peso dos problemas sociais e da sua indiferença, o cinza das cores...

Sem cerimônias deseja para si toda poesia do mundo e os mais espontâneos sorrisos, como espécie de antídoto. Antídoto que está em falta no momento. Deseja e se entristece.

O dia da menina amanheceu cinza.

Ela sabe que é a chegada dele. Só por ele que insiste em prosseguir, em enxergar além da cor...

Justiça Fraterna e Direitos Humanos

Aos 60 anos da declaração universal dos direitos humanos, não restam dúvidas de que a justiça se efetiva e se completa com a prática da fraternidade.

Grande parte das pessoas ainda traz consigo, aliada ao conceito de justiça, a herança deixada pelo Código de Hamurábi “olho por olho, dente por dente” que sugere o mal como ressarcimento ao mal sofrido.

Sim. Uma cultura que só trouxe prejuízos à humanidade – como comprova a própria história... Se olharmos bem, podemos ver a Declaração Universal dos Direitos Humanos como esse pedido de desculpas a tantas violações cometidas ao longo dos séculos.

Mas apenas declarar tais direitos, mínimos e fundamentais, ainda não é o suficiente. Precisamos legitimá-los e, para tanto, há que se pensar numa nova cultura, capaz de lhes garantir aplicação prática na vida de cada cidadão, uma cultura que transforme tais direitos em corriqueiros, “banais”.

A menina acredita que o caminho é a cultura da fraternidade. Essa que sugere aos homens o comprometimento pessoal com a coisa pública, expressa por meio de uma participação política ativa, e principalmente, uma “nova reciprocidade”: a reciprocidade do amor na aplicação da justiça, seja por parte dos cidadãos, seja por parte do Estado.

Mas é ai? O que falta?

Muita coisa – ela diria – mas, sobretudo, voluntários.

Cada pequeno esforço tem seu valor – e quanto valor!

O que você tem feito para construir um mundo melhor?

Coisas da vida

Chegou o dia em que o STF se posicionou sobre o uso de Células-Tronco Embrionárias em pesquisas científicas e foi favorável. Tantos se alegraram e tantos mais tiveram orgulho da decisão – tida como a mais acertada.

Mas para a menina restava tristeza e preocupações, pois precisara “engolir” seu lamento incompreendido. Sim, acreditem! A menina sentiu não só o peso da Lei sobre seus ombros, mas a dor do grito abandonado que ecoa nas ruas... Se por um lado era incompreendida, por outro sentia-se incapaz de compreender.

Ela entende que decisões como essas, capazes de influir definitivamente no curso das coisas, mais precisamente na forma com a qual a vida será tratada pela sociedade, exigem ponderação e prudência, mas não só. Trazem consigo efeitos irretroagíveis, sobretudo quando legitimadas por força de Lei. Mesmo que num futuro próximo se entenda que não se trata da decisão mais acertada, nada poderá ser feito em prol daqueles que restaram prejudicados. É justamente neste ponto que reside a gravidade da coisa, aí mora sua angústia.

Posicionamentos que dizem respeito não só ao futuro da sociedade, mas ao de minorias esquecidas, como os embriões e aqueles doentes cuja esperança está na evolução das pesquisas biotecnológicas, ou as populações ribeirinhas e os sertanejos do semi-árido nordestino, no caso da Transposição do Rio São Francisco, por exemplo, precisam ser norteados por princípios que vão além dos interesses político-econômicos ou biotecnológicos. Necessitam de um norte que vai muito além do que pode supor a Lei. Mesmo quando os mais otimistas antevêem seus benefícios, os resultados não se reduzem às previsões legais, as soluções não se escondem por de trás da adequação ou do cumprimento de uma norma.

A menina pensa a vida humana em seu início e em qualquer fase de desenvolvimento como inviolável, mas sabe que, no entanto, se trata de um argumento que muitos podem refutar, alegando a imprecisão desse início. Do mesmo modo, juridicamente, quando se fala “do nascimento com vida”, ou nos dizeres do Ministro: “vida pós-parto para ganho de personalidade perante o direito". Ela tem certeza de que aquele embrião é o início de uma pessoa, e que para tanto, necessita unicamente de tempo e condições para se desenvolver.

Dizem por aí que “a vida humana é altamente difícil de ser definida, a não ser por dogmas”, e talvez seja verdade... Ou a ciência está muito ocupada para definir quando é o início de uma vida, ou simplesmente não é capaz de fazê-lo. Para a menina, uma vida em desenvolvimento já é vida – uma questão de tempo e “colaboração” dos adultos. O problema é que as “feridas sociais” antepuseram outra preocupação: as condições ou possibilidades de vida, que agora servem como desculpa. Fomos vítimas de uma inversão de valores.

De fato, não podemos “tratar de embriões que estão se desenvolvendo em um útero do mesmo modo que embriões em vitro, incapazes de se desenvolver. Não é a mesma coisa”. Dessa forma, uma coisa é afirmar que o embrião é vida humana, outra é reduzi-lo ao status de material genético, por sua impossibilidade de se desenvolver. Será que não percebemos se tratar de dois assuntos distintos?

A inviolabilidade do direito a vida, mais do que garantias de nascimento e morte, sugerem à menina respeito (sagrado até) a tudo que envolve a vida humana e também ética para lidar com ela. A impossibilidade de vida daqueles embriões congelados é um ponto de extrema relevância, mas não é o único que deveria ser considerado.

A menina não sabe se uma sociedade incapaz de definir o início de uma vida humana, ao permitir que a mesma se torne material de pesquisa, saberá no futuro impor limites à sua manipulação.

Pode parecer simplório, mas ela teme a manipulação da vida, quando acabarem os embriões inviáveis e os viáveis venham a ser “produzidos” – (ou não seriam “sacrificados”, com o perdão da palavra) – para fins de pesquisa e a vida humana deixar de ser inviolável na sua gênese.

A menina não se conforma. Deseja o bem daqueles doentes que depositam sua esperança nas pesquisas biotecnológicas tanto quanto o dos embriões, dos idosos e de cada homem. Ela sonha com uma sociedade que não se enquadra em contra-valores fascistas, mas que dá o devido respeito aos doentes e aos saudáveis, aos que se desenvolvem e aos que alcançam ao fim de seus dias, reconhecendo a importância e beleza de cada um.

Acredita sobretudo no bem-comum, na fraternidade e deseja construir uma sociedade em que a vida encontre dignidade em todos os estágios e condições.... Ela crê de verdade que isso é possível. E, por mais que seja difícil dar forma a essa sociedade, é capaz de reconhecer aqueles elementos que não se encaixam nela...

Seguirá acreditando e fazendo a sua parte.

Simplicidade

A menina acordou desejando um poema, rosas brancas, a canção mais bela e o mundo todo azul (enfeitado de gargalhadas, sorvete de baunilha, beijos e abraços aos montes)...

Está certo que devemos ser realistas, precavidos quanto aos infortúnios da vida – e haja infortúnio! –, pés no chão, etc., etc. Mas injeção de ânimo e sentir o gostinho bom da vida é o que todo mundo quer, mas somente os ousados se permitem desejar.

A grande jogada da vida é tentar ser feliz. – Falo da felicidade como algo simples e muito mais profundo do que o senso-comum possa imaginar. – Isso mesmo: o grande lance é buscar a felicidade. Pode parecer simplório, mas não: a menina tem plena certeza de que é para ser feliz que fomos criados e não pra outra coisa.

Se pensarmos bem, ela tem toda a razão...

Não há pessoa nesse mundo quem não porte uma dor, que não guarde uma tristeza... Todos enfrentam problemas, conhecem o sabor amargo da luta pela sobrevivência, seja qual for a classe social a que pertençam. Se aqui sobra dinheiro pro pão, pode ser que falte amizade; já ali falta o dinheiro e sobra a disposição pro trabalho; noutro canto acabou até a disposição, mas restaram amigos com solidariedade... assim, o povo se vira como pode para amenizar os problemas e vencer dignamente cada batalha da vida.

Agora imagina essa luta – que muitas vezes parece não ter fim – ao som de uma marcha fúnebre, expressa em lágrimas silenciosas, em dia triste de neblina, sem cor, sem perfume, sem sabor... será que valeria a pena???

O grande lance é viver o presente e se permitir. Ir tentando, recomeçando, tentando um pouco mais, até chegar no final e lá encontrar a certeza de que conseguiu. O segredo é perceber que a brisa é mais gostosa com o calor, que samba também combina com o barulho da chuva e que cada sorriso, cada careta e cada suspiro lançado possuem seu valor. É notar a importância de regar a terra e podar as folhas, antes mesmo de pensar em colher os frutos...

Mesmo quando não conseguimos mudar a dura realidade, ainda assim podemos ser felizes. É nessa felicidade que a menina acredita: a felicidade de quem vive o agora da melhor forma possível; de quem não perde tempo chorando o leite derramado e nem guarda “frentinha” para o mal, caso ele resolva aparecer; de quem prefere o copo “metade cheio” ao “metade vazio”; quem acolhe com sorriso a beleza da feiúra, por ser capaz de reconhecê-la na sua angústia por estar escondida...

Porque felicidade é ousar; desejar o que é bom, acreditando que ele virá; apostar na simplicidade, empenhar o melhor de si...

É acordar desejando ser feliz com um poema, com rosas brancas, com a canção mais bela e em um mundo todo azul.

Fazendo bom proveito do Direito

A menina se depara com o problema da “estagnação social”, apresentado pelos interessados no assunto, como resultado lógico da equação Justiça = Direito. Afirmativa cruel, imediata no incômodo e tristeza de quem não entende como legítima tal equação. Não, a Justiça não pode se reduzir ao Direito e nem quer estar centrada nele. Do contrário, este quer lhe servir como instrumento eficaz – não o único – à sua atuação.

Precisamos identificar as bases dessa cultura legalista, que ao se firmar, priva o acesso de maioria esmagadora da sociedade aos direitos que lhe são garantidos, ou os distancia deles.

Se reduzimos o Direito ao seu farto complexo de leis, reduzimos não só a sua aplicabilidade, mas também o contexto social ao qual se encontra inserido. Nesse sentido, fica fácil observar a fragilidade de todo e qualquer sistema jurídico, bem como sua ineficácia e inaplicabilidade, o que não é de todo negativo, pois permite buscar mecanismos para otimizar sua atuação. No entanto, esse seria apenas o primeiro passo.

Para chegar à etapa seguinte, é importante pensar o Direito não apenas enquanto conjunto de normas, mas como Ciência Jurídica que busca, antes de tudo, viabilizar, estabelecer ou firmar o bem-comum. De modo que não se trata da defesa pura e simples de uma ordem social para o Estado-Juiz, ou da primazia dos direitos de cada indivíduo, mas daquela ordem mínima que precisa ser mantida, justamente porque servirá de “pano de fundo” para o bem-comum.

Entenderemos então o papel do Direito no processo de socialização ao adquirimos clareza do que é este bem-comum e dos meios de alcançá-lo, quando evidenciarmos a necessidade de aliá-lo a outras ciências, seja para fundamentar, seja para viabilizar sua aplicação.

Aqui podemos pensar na importância da Psicologia Jurídica quando se busca manter a ordem quer a partir de decisões “particulares”, resultantes de uma separação judicial, por exemplo, quer na decisão de punir atos infracionais cometidos por adolescentes, que tenham resultado na morte de um indivíduo. Talvez, para o Direito em sua vertente legalista, um ato infracional com resultado morte, necessite apenas ser reparado com a “punição devida”, mas para o Direito humanizado, há ainda a preocupação em recuperar aquele menor, de lhe garantir condições dignas de sobrevivência, afim de que possa seguir a vida por caminhos que não sejam os da violência e da marginalidade.

Ironicamente, a menina acaba por concluir que o Direito não pode alcançar seu fim-social se está impedido de se aliar às demais categorias da vida humana, nos campos econômico, político, administrativo, social. Somente com a colaboração de outros segmentos, as normas poderão se adequar às necessidades do bem-comum que toda a sociedade almeja, deixando de lado as de certos grupos ou categorias privilegiadas por aqueles que a redigiram – estes, em tese não estão envolvidos diretamente à sua aplicação.

Depende do trabalho dos operadores do Direito? Sim, mas não exclusivamente deles. Depende muito mais dos cidadãos que o invocam, que sem dúvidas são a maioria.

Desta forma, o problema não é mais a Justiça reduzida ao Direito, ou o Direito reduzido à norma, mas “quem” os reduz. O problemas é a forma com a qual os cidadãos tratam o Direito, evocando o legalismo em proveito próprio, desvinculando-o daquelas que chamamos “ciências auxiliares” e, consequentemente, distanciando a norma do seu fim-social.

Se o Direito visa unicamente possibilitar o bem-comum através da manutenção da ordem em todos os seguimentos da vida humana – não se trata de estabelecer uma ordem, mas de manter a ordem que a própria sociedade legitimou – respondam: há fundamento para tamanho preconceito?

A melhor tática é fazer bom proveito das ferramentas oferecidas pelo Direito e com as demais possibilidades de atuação, seguir em frente na luta social pelo tão desejado bem-comum. Grande diferencial: estarem aliados.

Por que escrever?

Mario Quintana diria que é por causa daquela “necessidade de recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida”. – No caso dos poetas, claro.

A menina simplificaria tudo. Diria que não precisamos de motivos para escrever e tampouco de assunto, pois escrever é ir além das convenções e da própria necessidade.

Escrever é ir bem longe, em terras distantes: nos sonhos, nas fraquezas, nas misérias, no ápice do infinito, no chão dos continentes e até no coração de Deus. Mas é também não ir a lugar nenhum: esconder-se de tudo, refugiar-se em si mesmo ou no lugar onde nem a imaginação pudesse chegar... É revelar e desvendar; é ver, sentir e ouvir; é saber e é ignorar; é edificar e demolir; é tudo que se possa querer.

Ah se as pessoas conhecessem o poder de transformação dessa arte, se soubessem a arma que têm nas mãos...

Certamente construiriam sonhos mais bonitos e realidades mais amenas.

Normalidade

A menina está cansada de terem tudo como normal.

As pessoas não percebem que já passamos dos limites da normalidade, que as coisas não vão bem?? É preferível acreditar que atravessamos a crise do bom-senso, que ela logo chegará ao fim...

Aquela senhora acordou cedo para trabalhar e encontrou, na porta de casa, um jovem morto a pedradas. Tamanho susto, tamanho medo, tamanha indignação... Mas seu chefe disse para ir tranqüila, porque isso é normal. Na parada de ônibus também acharam normal e tentaram lhe arrancar detalhes do “normalíssimo” quadro cor de sangue... tantos apreciaram, estatelada no chão, a trágica “obra de arte”.

Aquelas lágrimas e o tremor da voz, ao narrar o encontro com a morte, denúncia mais que absurda. No entanto, queriam lhe fazer crer que se tratava unicamente de um susto, afinal ela nem viu a cena e ignorava o motivo real de tal incidente. Os bem informados sabem direitinho que em Valparaíso a coisa é pior, porque lá matam à qualquer hora, na frente de qualquer um. Sem contar as chacinas no Rio, das quais aquele lamentável ocorrido não passa nem perto.

Não, minha gente. A violência não é normal.

Ela precisa ser extirpada do nosso meio, com esforço pacífico e eficaz, dignamente... E extirpar a violência significa aliar-se à educação – a do colégio e a que vem de casa (que gostamos de chamar “boas maneiras”); é acreditar nos pequenos gestos e investir fundo neles; é não ter vergonha de ser honesto; não medo de emitir a opinião; ter coragem de reivindicar os seus direitos; é não duvidar do próprio potencial, não abrir mão da própria dignidade....

Temos que acreditar que para toda situação, qualquer que seja, existirá uma solução pacífica. É preciso associar-se àqueles que desejam esse fim, tornando irrelevantes as diferenças que possam existir entre ambos.

No combate à violência é fundamental não perder a sensibilidade. Foi essa a contribuição daquela senhora, mas muitas outras podem ser dadas. Talvez falte justamente a sua.

Sobre amor e política

A menina leu por ai que o primeiro beijo se dá com os olhos, mas não de forma leviana. E que ele causa impacto quando acontece em um lugar "inusitado", inesperadamente...

O planeta contém bilhões de pessoas interagindo em várias gerações. Diante da vastidão do espaço e da imensidão do tempo, poder partilhar um planeta e uma mesmo época com pessoa em quem se confia e a qual se deseja, a quem se ama e está pronto a morrer por ela, é a grande realização do ser humano que se relaciona.

Fato que explica a razão do beijo dado em quem se ama ter mais sabor, da presença de quem se ama trazer segurança e da distância, mínima que seja, fazer brotar doce saudade...

Nessa dinâmica, cósmica, química e espiritual, aprende-se que amar é sintonia de almas, além da atração de corpos; é afinidade, que admira com o cérebro, quando já se admira com o coração; é dor e sacrifício, além do prazer e do desejo; é concretizar atos, bem mais que ser romântico... é amizade, é ser também irmão.

Mas porque falar de amor, quando podemos falar de política?

Talvez porque desconfie quem não puder experimentar o amor em todas as suas faces não consiga desenvolver verdadeiras condições para exercer a política...

O que a menina também pode dizer aos seus amigos?

Pode dizer que precisamos definir claramente o que é a política. Não pra ter um conceito formado que nos garanta sua prática íntegra e plena, já que a simples conceituação não nos permite isso, mas para a partir dela criarmos condições para a ação.

Que é necessário pensar em política como quem pensa qual o prato servirá no almoço de família do domingo: a opção do melhor a ser feito, superando até as próprias condições, de modo que agrade a todos ou ao menos a maioria. Porque na prática é exatamente isso: simples assim.

Quase todo mundo, inclusive os que exercem política da forma “oficial”, tende a relacioná-la a um jogo sujo de interesses e poder. O que talvez se explique pelo fato da temática ainda estar envolta em trevas, fazendo com que as pessoas conheçam apenas sombras e caricaturas mal-elaboradas das verdades que ainda restam por revelar.

O desânimo paira no ar. A indiferença paira no ar. Com eles, insatisfação e revolta (apáticos) de milhões de brasileiros, e um longo caminho a ser trilhado. É justamente por isso que não podemos ficar sossegados enquanto não abrirmos espaço à luz, mesmo que chegue de milímetro em milímetro.

A luta não resta perdida, somos nós os detentores do grande potencial político, em sua mais completa vitalidade. Damos provas diárias nos vários ambientes que freqüentamos, seja na padaria, ao reclamar da qualidade do pão, seja ao negociar em casa quem lavará a louça e quem limpará o banheiro, ao solicitar desconto no restaurante ou ao fazer-se ouvir por outros que trazem opiniões totalmente contrárias...

Atos pequenos e significativos.

Certamente, os estudantes da Universidade de Brasília partiram deles e acabaram por se descobrirem capazes de sair em defesa de sua universidade heroicamente. Pode não ser a realidade da maioria dos universitários brasileiros, mas serve como belíssimo exemplo.

O sabor da ausência

Sim, para a menina essa sempre foi a festa mais solene: preparava-se em quarentena, fazia faxina na alma e tudo... Sempre o mesmo ritual, mas cada vez com um gostinho a mais, com uma outra vida: tudo igual e sempre muito diferente.

Talvez o intervalo entre a festa passada e essa tenha deixado tudo mais diferente ainda... Embora, pela primeira vez não conseguisse levar a cabo os pormenores de seu ritual, a menina sentiu-se preparada como sempre, dessa vez pela própria vida. Por outro lado, entendia com clareza maior a importância daquele ritual para que conseguisse uma boa preparação, talvez sem o auxílio dele não fosse possível que em sua falta a própria vida viesse lhe preparar.

Tinha um gostinho todo especial festejar em casa novamente, mas tinha gosto de medo também. Por causa de sua ausência, chegava a se sentir como uma visita... Mas não, estava em casa e sabia muito bem disso. O que não sabia era identificar ao certo qual dos ambientes haviam mudado de verdade: se sua casa ou o interior dela mesma.

A festa foi esplêndida! Encheu os olhos e o coração.

Porém, com sutileza, a alma sentiu falta de “certos elementos” que não compõem aquele cenário mais... Vale dizer que a festa não teve menos beleza por causa disso, de jeito nenhum. Ela simplesmente ficou marcada com o sabor da ausência. Talvez fosse justamente esse o gostinho diferente a ser experimentado.

Foi quando a menina sentiu forte aquela certeza de que tudo passa. Lembrou-se do tempo vivido, questionou as formas de tê-lo vivido melhor, de tê-lo aproveitado completamente...

Por sua vez, sentiu muito mais forte a certeza de que é o amor verdadeiro o único que se eterniza. Sentiu-o eternizado ali, e por isso o sabor da ausência. Aquelas lembranças e aquela saudade ficarão para sempre gravadas nas paredes daquele lugar, e quanto mais na sua alma...

Recomeçou e abraçou o presente com nova alegria. Foi a maneira que encontrou de fazer com que aquele “quem tem ouvidos para ouvir, ouça” ecoe pra sempre no coração e por entre aquelas paredes, sua maneira de levá-lo sempre consigo, onde quer que vá, eternizado...

Obrigada, Chiara!

Seu olhar cheio de vida, seu sorriso transbordando alegria, sua luz que a todos fascinou...

Era belíssima! A jovem mais bela que nossa época viu.

Chiara Lubich, mulher de um grande e audacioso Ideal.

Viveu para torná-lo possível e o fez acessível a quem quisesse seguir, independente de raça, cultura ou religião. O mundo inteiro seguiu seus passos.

A coragem do seu “sim” ecoou nas mais diversas esferas – política, econômica, social, espiritual – revolucionando muitas vidas.

Quando a conheceu, a menina não teve dúvidas de que se tratava de alguém realmente muito especial. Deixou-se iluminar pela luz do seu Ideal, decidiu-se por seguir... Quanta alegria experimentou!

Descobriu a beleza de cada um que passava ao seu lado, viu que tinha uma vida só e apenas o momento presente para vivê-la bem, mergulhou na maravilhosa aventura do Amor, que vence tudo...

14 de março, dia em que o mundo acordou chorando, mas no céu se fazia festa: a mais bela estrela chegava para compor sua constelação.

A menina também chorou... e também fez festa.

Ela sabe que pode usar da própria vida para fazer chegar a Chiara seu obrigada.

Viva às Mulheres

Sonhava em ser mulher quando crescesse...

Tinha ainda trejeitos e manias de menina (e muito orgulho disso também), conjugados à certeza de que não haveria de passar por mulherzinha jamais: era seu compromisso consigo mesma.

Desejava jogar no time das que olham nos olhos, haja o que houver, e que não o fazem para impor sua presença, afirmar sua feminilidade ou desafiar quem quer que seja, mas para serem justas consigo mesmas. Das que não dissociam a luta da justiça e que sabem perfeitamente que seus direitos não estão acima dos demais, e justamente por isso são muito mais guerreiras. Guerreiras de tantas lutas, ora silenciosas, ora ensurdecedoras, enlouquecedoras até.

Elas, tão donas de si e ao mesmo tempo tão dos outros. Que sabem olhar com amor e com autoridade, que esbanjam ousadia e espírito de serviço, garra e docilidade, determinação e prudência...

Dentro de si, mal podia conter o orgulho.

Quanto mais observava, mais brechas dava ao medo.

Sim, não foi difícil descobrir que não seria fácil. Evidenciava as dificuldades sociais, grandes e tão cruéis, e a luta que fora imposta para vencê-las...

Lá no fundinho se sentia aliviada, pois tinha a intuição que sua luta seria outra: não uma luta forjada por modernos ideais, por uma falsa justiça, por uma tola disputa de lugares ou pela inútil tentativa de medir forças. Não. Mais que isso. Sua luta seria a busca por justiça, por equidade, sem mitigar sua própria imagem, sem distorcer seu próprio papel, sem abrir mão de sua essência.

E sentia asco também.

À idéia de ser mulherzinha. À remota possibilidade de se esvaziar por dentro, de tropeçar nas futilidades, de mergulhar na alienação, de ser escrava das tendências, refém da irrelevância, reduzida a extravagância de seus enfeites...

No entanto, a menina era ciente de sua força – forte e natural como a maternidade.

Por isso acreditava.

Sonhava em ser mulher quando crescesse...

Foi o melhor viva da menina às mulheres.

Receita da menina

Chegará um dia em que você vai querer ser diferente e perceberá que não se trata de algo tão simples assim. Vai descobrir que tudo o que construiu com a sua personalidade não irá desmoronar num passe de mágicas para que você evite essa ou aquela situação, resolva esse ou aquele problema. Vai perceber que tem o seu próprio tempo e por isso, nem você mesmo será capaz de acelerar o seu processo...

Mas o desejo de melhorar é tão intenso e perturbador, a vontade de superar, de vencer os desafios da vida é tão grande... não dá pra se contentar com tão pouco!

Ou você se revolta, abrindo mão das suas escolhas, desistindo das próprias conquistas, em virtude das dificuldades, ou...

Respira. Acalma e silencia, pra não fazer besteira. Pede a Deus paciência. Agüenta firme. Abstrai. Acredita. Busca motivações. Espera. Contenta-se com o pouco que conseguir. Alegra-se com cada pouquinho e vá juntando até formar um montante considerável. Espera mais, se for o caso. Repita todo o processo e recomeça sempre que necessário. Não desanima. Continua acreditando, cada vez mais. Sorria sempre que puder. Não deixa de amar. Vá até o fim.

Receita boa.

Coisas da menina

Naquele dia a menina acordou carente e com saudade de tudo. Saudade do que passou e da saudade que já sentiu – vinha junto um desejo de sonhar, de viver, de ser feliz...

Vendo fotografias de pessoas felizes desejava ser amada na mesma intensidade que as imagens sugeriam... e ainda sentia que era pouco, pois seu coração, naquele instante, desejava bem mais que isso. Queria sentir que viviam por ela, para ela e com ela cada instante bobo de felicidade. (Vai dizer que você nunca sonhou com um príncipe encantado – ou princesa, com um maravilhoso grupo de amigos, como o trabalho perfeito e crianças gentis???)

Precisava de uma resposta, uma pista, um caminho... para preencher o vazio e acalmar o coração. Não conseguira inventar.

Um e outro se acercava a ela...

Simplesmente amava.

Tudo se resolveu: o amor voltava em dobro.

Parabéns, mano!

Numa aventura - dessas que são únicas em nossa vida – fui parar em Rondônia e ganhei um irmão. (Não é que o tenha ganhado ali, da noite pro dia, não, ganhei aos pouquinhos.) Foi justamente ali que nascemos um para o outro. Um grande Projeto, com uma bela e marcante experiência em comum... E depois outra, e mais outra, e mais outras...

E a aventura maior foi a de conquistar um amigo e ganhar de bônus um grande irmão. Não sei se as pessoas sabem bem como é isso, posso apenas afirmar que é uma das mais belas aventuras que se pode viver.

As oito horas mais desgastantes do seu dia podem ser vividas com leveza quando você vive juntinho do irmão. E aqui não falo de qualquer irmão não! Falo daquele que agüenta as minhas chorumelas, mau-humor, tpms; engole comigo todas as cobras e lagartos que encontro no trabalho, conforta minhas dores de cotovelos, me anima e além de tudo faz gracinha... Um irmão maluquete, que sempre tem mil idéias malucas na caixola e as apresenta na maior naturalidade. (Geralmente são as que eu gostaria de ter coragem para ter, hehe!). Que divide comigo suas revoltas, seus questionamentos, seus micos, suas dores, suas alegrias, seus textos e até me presenteia com suas traduções...

Quase hippie, meio cientista maluco, um tanto rebelde sem causa... O coração mais livre e puro que você possa imaginar. Amo mesmo!

Fraternidade

Até outro dia podia associar a idéia de Justiça a conceitos recheados de rigor, repressão, violência, luta. E eis que descubro a Justiça intimamente ligada ao conceito de Fraternidade; descubro que se trata realmente de algo mais profundo...

Falo de um conceito que abarca muito mais que parentesco entre irmãos, solidariedade, amor ao próximo, harmonia, amizade, pura e simplesmente. É a reciprocidade de tudo isso. Algo que, quando vivido, transformará a Humanidade em uma única família. Imprescindível, inscrita no DNA de todo homem, capaz de conduzi-lo à tão sonhada paz universal.

Fraternidade!

De tão sonora, parece absurda; mas não. É uma realidade que vem se delineando diante dos nossos olhos, tomando forma ao alcance de nossas mãos, uma realidade da qual necessitamos com urgência.

Desejamos uma Justiça que não esteja reduzida a nobres esforços em prol do bem-comum, mas que seja o resultado de um modo de agir “fraterno”. Almejamos um bem-comum que ultrapasse a medíocre soma dos interesses e culmine no bem de toda a sociedade. Queremos atuar uma participação política que vá além das discussões inflamadas e pouco proveitosas e se torne meio eficaz de atuar a justiça.

É fato que leis e normas justas edificam a sociedade, no entanto, sabemos que não são capazes de fazê-lo sozinhas. Necessitam de algo mais. Precisam de “modos de comportamento” e de relações humanas que nos ajudem a educar as pessoas para a justiça e que garantam a justiça e a fraternidade.

Acredito que a Fraternidade, essa está inscrita no DNA de cada homem. Creio na reciprocidade como caminho para a Fraternidade e que este é o meio de realizar a comunhão nos relacionamentos e atuar concretamente o Evangelho.

Quero apostar na função reguladora do Direito irrigado pelo mandamento novo, para ver nascer juristas novos e uma Justiça Fraterna.

Pergunto: Se a pessoas têm tudo a ganhar com este novo modo de agir, por que não agir assim??

Desabafo de menina

Confesso que há um tempinho venho desenvolvendo certa implicância, e diria crescente, com o feminismo - particularmente com o Movimento Feminista... Motivos ou motivadores à parte, não convém citar... O fato é que essa temática, pela qual nunca tive real interesse, despencou sobre minha cabeça nos últimos tempos. Mesmo, acreditem!! E feriu até... Despencou, desabou como jaca madura e grande...

Inclusive academicamente. Na semana jurídica que fizemos, cujo tema central foi a "proteção ao direito à vida", até lá ela entrou - como figurante - e pasmem: quase que imperou nas discussões. Agora, por favor imaginem ai nobres e ilustres doutores (uma ou outra mulher) discutindo o feminismo à luz do Código Civil, Código Penal e da Constituição Federal.... há os que se remeteram aos costumes, aos Códigos de Hamurábi e de Manú... Lei Maria da Penha, Crimes Passionais, Estatuto do Nascituro, Descriminalização do Aborto (Projetos de Lei), Crimes Hediondos, teve de tudo... e eu lá! Caramba! E imaginem ainda que o meus motivos para não querer saber de feminismo, machismo e outros “ismos” afins vão muito além da esfera jurídica, política, ideológica, cultural, sociológica, filosófica... São razões minhas, razões sentimentais e até diria femininas, mas pessoais. Não queria ser incomodada com esse assunto e pronto! Será que é difícil respeitar isso? Pra muita gente é sim, e o azar foi todo meu.

Daí ouvi, pensei, concordei e descordei de tudo o que era discutido... cheguei a criar novas hipóteses e o sentimento não mudou. Por fim, pra revidar e de pirraça mesmo, resolvi ser mais flexível com a questão e comigo mesma. Comprei um livro sobre assuntos de mulher e me dispus a pelo menos ser mais feminina antes de me irritar tanto com essa luta, que segundo dizem, também deveria ser a minha. Não que eu não me identificasse com ela, pelo contrário. E até há quem me chame de feminista por ai, seja pelo simples fato de eu não gostar de serviços domésticos, não ter talentos com crianças, bonecas, moda, fofoca e maquiagem ou porque sei contrariar e reivindicar meus direitos inclusive sem a mínima delicadeza...

Gostei deveras do livro, me ajudou a reavaliar muitas coisas. Até me decidi a cozinhar (ou pelo menos tentar aprender, hehe) e a valorizar o que me possibilita ser mais feminina. No entanto, reforçou minha compreensão do feminismo mais como “uma desculpa ideológica e escudo seguro para o que dói na alma” de tantos homens e, sobretudo, das mulheres, do que como resposta. E da opressão como “algo que depende de quem a recebe”. Talvez seja por isso que meu sangue não ferva nas veias em prol da causa. Quem sabe algum dia mude de idéia? Mas, enquanto mulher, também me sinto no direito de ser livre para pensar assim. Afinal, meu foco é outro, poxa! Será que estou errada por não me encaixar em nenhum dos dois lados completamente?

Olha, juro que é verdade que sinto como minha essa luta, mas não dessa forma agressiva (e tão opressora quanto). Não a compreendo como uma luta por igualdade, já que estou convencida de que homens e mulheres são distintos em sua essência. Vejo como uma luta por equidade, por justiça, o que é bem diferente. Se por um lado não podemos usar para ambos os gêneros a mesma medida, a fim de que se sane as “desigualdades” estabelecidas erroneamente entre eles – aqui prefiro dizer injustiças –, por outro, também não é necessário medir forças ou usar as mesmas armas masculinas, pois seria perder a identidade.. Acredito que “mulheres não precisam ser masculinizadas para que exista respeito. Em momento algum é preciso fingir que não temos, lá dentro, um sentimento arcaico de servir sabor a quem amamos. Isso não me diminui, não diminui ninguém”. Apenas nos difere. Também eu “entendo que o sexo é político, abomino mutilações” e, claro, sou a favor de algumas coisas que o feminismo defende, mas gente, minha luta é outra...

“Quando uma moça libanesa foi indagada sobre o véu e disse que ser obrigada (a usar) era chato sim, e que usava por outro motivo. Porque gostava de se mostrar inteira apenas a quem realmente merecesse. E que triste mesmo eram as ocidentais, se escondendo o tempo todo, dentro e fora de casa, atrás de maquiagens e plásticas. Ela está errada?” Não podem existir outros meios, outros valores? Necessariamente o feminismo tem que ser resposta ou solução para a opressão das mulheres? É a única forma que têm de conquistar autonomia e liberdade??

Desculpem gente.... Esse desabafo é só uma tentativa de justificar porque resolvi ser mais feminina sem ser feminista. Ele não significa que aceito a opressão, ou que não vou lutar à minha maneira contra ela.... Esse desabafo é pra dizer que existem mulheres que se sentem livres para acreditar em outros caminhos e não são menos mulheres que as Amélias ou as Feministas da vida. São mulheres tão boas quanto. Elas jogam no mesmo time sim, só que em outras posições...

Ah! E vale a pena ler o livro “Papel Manteiga para embrulhar segredos – Cartas Culinárias”, de Cristiane Lisboa.

Aprendizado

Percebia a grandeza do seu amor todos os dias, ao chegar cansada do trabalho. Ao ponto de me fazer enterrar todas as chateações e o cansaço devastador. Sem sombra de dúvidas, era grande mesmo.

Aquelas flores sempre frescas e perfumadas no jarro azul à minha espera me recordava a condição de rainha que me dera desde sempre. Sim, é justamente assim me fazes sentir.

Olhar em teus olhos, receber teus beijos e abraços de boas-vindas ao adentrar na porta é como receber a chave da cidade e ser proclamada dona daquela pedaço de mundo, que contigo me espera todas as tardes.

Contar-te as alegrias e infortúnios do dia, na certeza de que estás do meu lado, e recostar a cabeça em teu colo é o melhor programa de fim de tarde do mundo!

E com tanto amor, vou aprendendo a amar também...

Valeu mãe!

Encantos

Em certos dias buscamos com urgência os encantos da vida e não sabemos onde encontrar. Certa vez descobri em Planaltina. Sim! Naquela cidadela de praças e novenas, foguetórios e blém-blém do sino...

É difícil descrever o encanto quando se embriaga nele... Sem sentir, é impossível compreendê-lo. Fecha os olhos e esquece tudo. Caminha naquelas ruas e me entenderás!

A cada passo dado um encontro marcado com a vida, uma palavrinha com o amigo, um respiro, uma brisa. – E quando caminhares na procissão, se for a de São Sebastião, sentirás o sangue ferver a cada rojão e desejarás muito ser como aquele de quem fala o hino; se for a do Divino, beijarás a bandeira com mais amor que o próprio folião, sentirás o fogo do amor abrasar a tua alma e o consolo da pomba será suficiente para que se proclames imperador dos teus novos dias...

Verdade! Lá as noites parecem maiores e nos descansam mais. As horas são tranqüilas e absurdamente mais intensas e divertidas. Os amigos são como irmãos e estão disponíveis 24h (detalhe: sem auxílio de celular, orkut ou msn). Lá todos são vizinhos e os vizinhos são parte da família. Sua casa está sempre cheia de gente e você não se sente invadido por isso. Você pode caminhar quilômetros a pé na mesma disposição de quem vai à esquina, gasta meia hora na padaria porque foi atendido imediatamente e ficou batendo papo com os amigos que sempre encontra por lá...

Ruas por onde me perdi. Onde a vida se embriaga de pequenos encantos e a simplicidade fascina.

A Senhora

A menina caminhava pela vida, tristonha, cansada e sem rumo, quando viu aquela Senhora vindo em sua direção. Por um instante chegou a crer que estava nua, mas logo viu que não. Em seguida a percebeu rodeada de animais, contemplando cada um com uma tranqüilidade descomunal. E a cada passo dado, algumas pessoas também se achegavam a ela, com os mais variados semblantes, e absurdamente se desmanchavam em sorrisos – não os de quem acha engraçada a situação, mas sorrisos confortantes que depositavam alegria e confiança, sorrisos que brotavam do mais íntimo de suas almas.

Se viu imóvel e sem pensamento algum, incapacitada de compreender se tal cena era realidade ou mera ilusão, sem reação, à espera daquela que vinha ao seu encontro. Teriam o cansaço e desânimo levado a menina à loucura? Não. Era ali um encontro inusitado, no último dia do ano, a marcar toda a sua vida...

Tinha o semblante mais feminino que já se viu, conjugado a um ar maternal iluminado. Ao passo que transbordava juventude, transbordava também a experiência de longos anos. Suas vestes pareciam não lhe servir de disfarce e a beleza de sua alma refletia através das roupas, fato que a fazia parecer nua. E aquela esplêndida beleza assim o era por ser também acidentada. Não fazia questão de disfarçar as marcas de dor, pelo contrário, as mantinha nítidas e visíveis, elas que a complementavam, transformando-na em beleza singela... Sim. Pois era simplesmente bela! Sim. Era simplesmente bela!

A menina pensa nuca ter visto tanta beleza numa única mulher. Francamente não sabe como seus olhos conseguiram registrar tal imagem e suportar a luz que emanava dela. Crê que se conseguisse lembrar e transcrever em palavras aquele momento, jamais ficaria doente ou envelheceria... Mas se esqueceu. Lembra vagamente da beleza insuportável de seu rosto e da satisfação que senti ao perceber traços de semelhança entre elas...

Enquanto caminhava, a senhora transformava cada um dos que encontrava. Os jovens buscavam nela um amor maternal diferente, ali se tornavam seus próprios filhos, e no entanto, eram convidados a retornarem ao seus pais naturais, amando-os ainda mais. Os homens, ao olharem para ela, se transformavam em seus amantes, mas o amor que ela oferecia os tornavam mais fiéis às suas esposas e filhos e não menos. As mulheres que a contemplavam desejavam suas virtudes e alcançavam a possibilidade de tê-las para si, uma a uma; aspiravam à sua beleza e se tornavam capazes de assumi-la e de se identificarem cada vez mais com ela. Tinham-na como mais perfeito modelo. Todo animal e ave que a ela se achegava também encontrava espaço em seu amor.

É... Não dá para descrever a plenitude do amor daquela mulher: a vida que transbordava dela chegava a todos, como a pedra atirada ao lago que espalha mais e mais ondas concêntricas...

Olhou em nos olhos da menina, trazendo plenitude infinita. Seu calor desfez afetos e sentimentos, fez brotar o mais belo sorriso da alma. Sentiu-se protegida, amada, capaz, inspirada a ser como aquela Senhora...

O encontro não foi só isso, foi embalado ao som do Te Deum... Não há como descrever.

Sinto que ela se fará presente na vida da menina por todo o ano...

A menina só sabe que escondia Alguém maior.