terça-feira, 15 de julho de 2008

Simplicidade

A menina acordou desejando um poema, rosas brancas, a canção mais bela e o mundo todo azul (enfeitado de gargalhadas, sorvete de baunilha, beijos e abraços aos montes)...

Está certo que devemos ser realistas, precavidos quanto aos infortúnios da vida – e haja infortúnio! –, pés no chão, etc., etc. Mas injeção de ânimo e sentir o gostinho bom da vida é o que todo mundo quer, mas somente os ousados se permitem desejar.

A grande jogada da vida é tentar ser feliz. – Falo da felicidade como algo simples e muito mais profundo do que o senso-comum possa imaginar. – Isso mesmo: o grande lance é buscar a felicidade. Pode parecer simplório, mas não: a menina tem plena certeza de que é para ser feliz que fomos criados e não pra outra coisa.

Se pensarmos bem, ela tem toda a razão...

Não há pessoa nesse mundo quem não porte uma dor, que não guarde uma tristeza... Todos enfrentam problemas, conhecem o sabor amargo da luta pela sobrevivência, seja qual for a classe social a que pertençam. Se aqui sobra dinheiro pro pão, pode ser que falte amizade; já ali falta o dinheiro e sobra a disposição pro trabalho; noutro canto acabou até a disposição, mas restaram amigos com solidariedade... assim, o povo se vira como pode para amenizar os problemas e vencer dignamente cada batalha da vida.

Agora imagina essa luta – que muitas vezes parece não ter fim – ao som de uma marcha fúnebre, expressa em lágrimas silenciosas, em dia triste de neblina, sem cor, sem perfume, sem sabor... será que valeria a pena???

O grande lance é viver o presente e se permitir. Ir tentando, recomeçando, tentando um pouco mais, até chegar no final e lá encontrar a certeza de que conseguiu. O segredo é perceber que a brisa é mais gostosa com o calor, que samba também combina com o barulho da chuva e que cada sorriso, cada careta e cada suspiro lançado possuem seu valor. É notar a importância de regar a terra e podar as folhas, antes mesmo de pensar em colher os frutos...

Mesmo quando não conseguimos mudar a dura realidade, ainda assim podemos ser felizes. É nessa felicidade que a menina acredita: a felicidade de quem vive o agora da melhor forma possível; de quem não perde tempo chorando o leite derramado e nem guarda “frentinha” para o mal, caso ele resolva aparecer; de quem prefere o copo “metade cheio” ao “metade vazio”; quem acolhe com sorriso a beleza da feiúra, por ser capaz de reconhecê-la na sua angústia por estar escondida...

Porque felicidade é ousar; desejar o que é bom, acreditando que ele virá; apostar na simplicidade, empenhar o melhor de si...

É acordar desejando ser feliz com um poema, com rosas brancas, com a canção mais bela e em um mundo todo azul.

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