terça-feira, 15 de julho de 2008

O sabor da ausência

Sim, para a menina essa sempre foi a festa mais solene: preparava-se em quarentena, fazia faxina na alma e tudo... Sempre o mesmo ritual, mas cada vez com um gostinho a mais, com uma outra vida: tudo igual e sempre muito diferente.

Talvez o intervalo entre a festa passada e essa tenha deixado tudo mais diferente ainda... Embora, pela primeira vez não conseguisse levar a cabo os pormenores de seu ritual, a menina sentiu-se preparada como sempre, dessa vez pela própria vida. Por outro lado, entendia com clareza maior a importância daquele ritual para que conseguisse uma boa preparação, talvez sem o auxílio dele não fosse possível que em sua falta a própria vida viesse lhe preparar.

Tinha um gostinho todo especial festejar em casa novamente, mas tinha gosto de medo também. Por causa de sua ausência, chegava a se sentir como uma visita... Mas não, estava em casa e sabia muito bem disso. O que não sabia era identificar ao certo qual dos ambientes haviam mudado de verdade: se sua casa ou o interior dela mesma.

A festa foi esplêndida! Encheu os olhos e o coração.

Porém, com sutileza, a alma sentiu falta de “certos elementos” que não compõem aquele cenário mais... Vale dizer que a festa não teve menos beleza por causa disso, de jeito nenhum. Ela simplesmente ficou marcada com o sabor da ausência. Talvez fosse justamente esse o gostinho diferente a ser experimentado.

Foi quando a menina sentiu forte aquela certeza de que tudo passa. Lembrou-se do tempo vivido, questionou as formas de tê-lo vivido melhor, de tê-lo aproveitado completamente...

Por sua vez, sentiu muito mais forte a certeza de que é o amor verdadeiro o único que se eterniza. Sentiu-o eternizado ali, e por isso o sabor da ausência. Aquelas lembranças e aquela saudade ficarão para sempre gravadas nas paredes daquele lugar, e quanto mais na sua alma...

Recomeçou e abraçou o presente com nova alegria. Foi a maneira que encontrou de fazer com que aquele “quem tem ouvidos para ouvir, ouça” ecoe pra sempre no coração e por entre aquelas paredes, sua maneira de levá-lo sempre consigo, onde quer que vá, eternizado...

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