terça-feira, 15 de julho de 2008

Desabafo de menina

Confesso que há um tempinho venho desenvolvendo certa implicância, e diria crescente, com o feminismo - particularmente com o Movimento Feminista... Motivos ou motivadores à parte, não convém citar... O fato é que essa temática, pela qual nunca tive real interesse, despencou sobre minha cabeça nos últimos tempos. Mesmo, acreditem!! E feriu até... Despencou, desabou como jaca madura e grande...

Inclusive academicamente. Na semana jurídica que fizemos, cujo tema central foi a "proteção ao direito à vida", até lá ela entrou - como figurante - e pasmem: quase que imperou nas discussões. Agora, por favor imaginem ai nobres e ilustres doutores (uma ou outra mulher) discutindo o feminismo à luz do Código Civil, Código Penal e da Constituição Federal.... há os que se remeteram aos costumes, aos Códigos de Hamurábi e de Manú... Lei Maria da Penha, Crimes Passionais, Estatuto do Nascituro, Descriminalização do Aborto (Projetos de Lei), Crimes Hediondos, teve de tudo... e eu lá! Caramba! E imaginem ainda que o meus motivos para não querer saber de feminismo, machismo e outros “ismos” afins vão muito além da esfera jurídica, política, ideológica, cultural, sociológica, filosófica... São razões minhas, razões sentimentais e até diria femininas, mas pessoais. Não queria ser incomodada com esse assunto e pronto! Será que é difícil respeitar isso? Pra muita gente é sim, e o azar foi todo meu.

Daí ouvi, pensei, concordei e descordei de tudo o que era discutido... cheguei a criar novas hipóteses e o sentimento não mudou. Por fim, pra revidar e de pirraça mesmo, resolvi ser mais flexível com a questão e comigo mesma. Comprei um livro sobre assuntos de mulher e me dispus a pelo menos ser mais feminina antes de me irritar tanto com essa luta, que segundo dizem, também deveria ser a minha. Não que eu não me identificasse com ela, pelo contrário. E até há quem me chame de feminista por ai, seja pelo simples fato de eu não gostar de serviços domésticos, não ter talentos com crianças, bonecas, moda, fofoca e maquiagem ou porque sei contrariar e reivindicar meus direitos inclusive sem a mínima delicadeza...

Gostei deveras do livro, me ajudou a reavaliar muitas coisas. Até me decidi a cozinhar (ou pelo menos tentar aprender, hehe) e a valorizar o que me possibilita ser mais feminina. No entanto, reforçou minha compreensão do feminismo mais como “uma desculpa ideológica e escudo seguro para o que dói na alma” de tantos homens e, sobretudo, das mulheres, do que como resposta. E da opressão como “algo que depende de quem a recebe”. Talvez seja por isso que meu sangue não ferva nas veias em prol da causa. Quem sabe algum dia mude de idéia? Mas, enquanto mulher, também me sinto no direito de ser livre para pensar assim. Afinal, meu foco é outro, poxa! Será que estou errada por não me encaixar em nenhum dos dois lados completamente?

Olha, juro que é verdade que sinto como minha essa luta, mas não dessa forma agressiva (e tão opressora quanto). Não a compreendo como uma luta por igualdade, já que estou convencida de que homens e mulheres são distintos em sua essência. Vejo como uma luta por equidade, por justiça, o que é bem diferente. Se por um lado não podemos usar para ambos os gêneros a mesma medida, a fim de que se sane as “desigualdades” estabelecidas erroneamente entre eles – aqui prefiro dizer injustiças –, por outro, também não é necessário medir forças ou usar as mesmas armas masculinas, pois seria perder a identidade.. Acredito que “mulheres não precisam ser masculinizadas para que exista respeito. Em momento algum é preciso fingir que não temos, lá dentro, um sentimento arcaico de servir sabor a quem amamos. Isso não me diminui, não diminui ninguém”. Apenas nos difere. Também eu “entendo que o sexo é político, abomino mutilações” e, claro, sou a favor de algumas coisas que o feminismo defende, mas gente, minha luta é outra...

“Quando uma moça libanesa foi indagada sobre o véu e disse que ser obrigada (a usar) era chato sim, e que usava por outro motivo. Porque gostava de se mostrar inteira apenas a quem realmente merecesse. E que triste mesmo eram as ocidentais, se escondendo o tempo todo, dentro e fora de casa, atrás de maquiagens e plásticas. Ela está errada?” Não podem existir outros meios, outros valores? Necessariamente o feminismo tem que ser resposta ou solução para a opressão das mulheres? É a única forma que têm de conquistar autonomia e liberdade??

Desculpem gente.... Esse desabafo é só uma tentativa de justificar porque resolvi ser mais feminina sem ser feminista. Ele não significa que aceito a opressão, ou que não vou lutar à minha maneira contra ela.... Esse desabafo é pra dizer que existem mulheres que se sentem livres para acreditar em outros caminhos e não são menos mulheres que as Amélias ou as Feministas da vida. São mulheres tão boas quanto. Elas jogam no mesmo time sim, só que em outras posições...

Ah! E vale a pena ler o livro “Papel Manteiga para embrulhar segredos – Cartas Culinárias”, de Cristiane Lisboa.

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