sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Chegou o natal

Chegou o Natal e com ele novas esperanças para a menina. Ela sabe que é o tempo de chegada e encontro, marcados de luz e graça.

Natal é encontro aconchegante, pacífico, familiar. Como é gostoso viver esse momento em família! Não importam os defeitos, os erros, os buracos que possam existir... o espírito natalino convida sempre a esquecer tudo para desfrutar do amor, convida a acolher a família que temos, mesmo quando ela não é exatamente como gostaríamos que fosse e a dar passos de encontro. Ainda que despercebida, a chegada do Deus-Menino nessa noite, faz com que a revolução de amor aconteça e transforme...

E só de olhar o presépio, a menina sente no ar o aroma da pureza... Um arrepio sutil lhe percorre a espinha e leva à memória a feliz noticia de que aquele cheirinho um dia exalou de sua fragilidade. Fragilidade que o tempo desfaz... O problema é que o tempo passa e vai mudando a gente. E como muda! Perdemos o frescor infante, a doçura, deixamos adormecer a criança interior...

Você já percebeu que nas crianças a ação do tempo é benéfica? O tempo as deixa mais belas, mais sábias, mais ativas. Ele as diverte, não lhes causa pesares nem medo e traz sempre um gostinho bom. Mostra apenas a face do presente, deixando que o passado e o futuro restem desconhecidos. Por isso que as crianças só se lembram de coisas boas e só se preocupam em desejar alegrias... para elas, isso é o que basta. E basta mesmo! Agora os adultos não. Quando começam a se achar maduros demais, permitem que o tempo lhes pese os ombros com as mais cruéis e traumáticas lembranças, com a tensão das expectativas e o peso das culpas. Centram-se no passado para viver o futuro, apoiados na arrogante “voz da experiência”, e não se permitem saborear o presente com suas dores e alegrias. Deixam para chorar depois, quando estiverem a sós; para se divertirem depois, quando não tiverem mais nada de importante a fazer; para perdoarem depois, quando o tempo tiver apagado as mágoas que insistentemente alimentaram dentro de si... e assim não se permitem ser felizes. Enquanto isso, a criança que caiu já chorou, ganhou colo, beijinho no machucado e voltou a brincar, sem se preocupar se irá sofrer outra queda. Não perdoou justamente porque sequer se lembra de ter sido empurrada, pois sua única preocupação é não voltar a cair no mesmo buraco. É feliz com tanta simplicidade, que nem percebe o quanto é feliz, apenas sente...

O Natal pede que a menina continue a ser menina e não se desapegue de sua infância. Que não permita que o tempo lhe pese os ombros nem lhe tire o medo e a ousadia, que não perca jamais a disposição de servir e amar – incrível como criança nunca tem preguiça pra isso! Para que não meça a generosidade dos seus atos, não se apegue aos sobrenomes nem se intimide com as regras dos adultos. Que ela se mantenha menina e permaneça doce e livre, sem vergonha de questionar os “por quês?”, de pedir colo, de esquecer as brigas e guardar na lembrança apenas o que foi bom. Para que, como uma boa criança, não desista de acreditar na vida e nas pessoas e não queira jamais ficar longe do Menino Jesus, porque aprende a ser criança com ele.

Chegou o Natal e veio mostrar que Jesus não se cansou de ser Menino, nem de recomeçar sua infância todos os anos... Chegou o Natal do Pequenino com aroma de pureza, pra despertar essa vida de criança no coração da menina.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Resposta de luz

Hoje a menina acordou com coração cheio de saudade e desejoso de carinho... cansada das feridas e desse “ter que ir frente” sem saber onde irá chegar. Só de pensar, já estremece de medo, pela real possibilidade de não chegar a lugar seguro, pela real possibilidade de perder e de não ter um natal feliz, por tudo que é real.
Ela andou descobrindo que saudade é muito mais que desejo de estar perto: saudade é o medo de perder para sempre, o desejo de que aquele amor que sentimos sobreviva às intempéries da vida com o medo de que não sobreviva. E percebeu que a gente deseja carinho na mesma proporção que pode dar e que geralmente deseja quando não está em condições ou não tem a quem doar da forma que gostaria... Tentou saborear com suavidade a saudade e o desejo de carinho, até quem em outro canto da rede se deparasse com o único fantasma que pudesse lhe causar ódio e ciúmes. A menina sabe que não há venenos piores que estes e vê ali seus sentidos agonizarem e perderem o viço: naquele instante se tornavam capazes até de matar aquela... melhor nem dizer. Melhor vomitar tudo e voltar a si...
Por que será que algumas coisas dão errado justamente quando outras estão a dar certo, menina? Simplesmente para não termos tempo de saborear, ou para não nos acostumarmos com o gostinho bom? Mais uma vez ela se depara com o “por quê?” e talvez com calma consiga chegar à resposta.
A menina pede que Ele a recorde das vezes que sentiu saudade e medo de perder... gostaria de saber se alguma vez Ele também sentiu ódio e ciúme... seria tão mais confortante se Ele viesse lhe contar que sim e entendesse que ela deseja apenas caminhar para um natal feliz.
Ela sabe que tem nEle as respostas, ainda que não consiga compreender nem sentir dentro de si a vibração daquele grito... ainda mais por isso, é certo que ela tem nEle as respostas. Agora resta por nEle a esperança, no desejo e na certeza de que sua chegada infante será resposta de luz, mudará tudo, trará uma nova realidade.

Fácil assim

Ah menina, se eles soubessem que o pior inferno não são os outros, mas o que a gente cria dentro da gente mesmo, eles desejariam uma vacina...
Mas a menina bem sabe que não existe vacina contra a vida e que viver dói mesmo. É a única certeza além-morte que temos: que vamos cair, nos machucar, quebrar a cara até... e precisamos continuar vivendo, inteiros, feridos, espancados pela vida ou ilesos, precisamos continuar vivendo, não há outra escolha...
O que pode parecer determinismo triste, também pode se tornar motivação, tomar ares de superação, desafio, basta que nos permitamos. A menina descobriu que essa é a palavra de ordem: “se permitir”. E quanto custa! Significa ir além dos nossos próprios limites, empregar todas as forças, ainda quando acreditamos que elas não sejam suficientes, trocar o nosso esquema por outro que seja “surreal”, perder o chão, arriscar... e além de tudo, agir com responsabilidade. Porque é a nossa vida em jogo, a única meta é viver e queremos cumpri-la da melhor forma.
Entramos numa roda-viva onde as escolhas acabam virando decisões, não há muito tempo pra pensamentos e ponderações, mas a urgência em optar pelo melhor e em pôr logo em prática... atropela-se o romantismo pra fazer nascer uma poesia prática e cruel: a poesia da vida real, que não usa maquiagem, tampouco omite traumas e feridas.
E é preciso continuar vivendo... descobrir a melhor forma de lidar com as dores e consigo mesmo, deixar de lado o inferno dos outros e tentar construir nosso paraíso... buscar cor e sabor mais amenos, agradáveis... sobreviver.
Cruel, sacrificante, exigente? Única saída, ou melhor, melhor saída. Porque é preciso continuar vivendo... Colar os caquinhos e seguir em frente: fácil assim.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Desejo

“Atrás de todo desejo vem uma estrada, o que vc acha disso?” Foi a pergunta que a fez pensar... E o que é o desejo, menina? Será que você sabe responder?
Será o simples querer, a simples alquimia? Ou o forte pulsar dos nossos sentidos, convergido num único apelo? Nada disso! Para menina desejar é bem mais...
Não dá pra se render ao desejo que se limita em instinto, pulsão, vazão de sentidos, animalidade simplesmente. Tampouco ao que nega tudo isso... Para menina, desejo é sentimento e sentido e também vontade e decisão... Algo que toma forma no querer e no fazer, algo que não se contenta em ser abstrato... Quando vem e nos invade, chega forte porque já percorreu um longo caminho...
E se atrás de todo desejo vem uma estrada, a menina até consegue visualizar... Todas elas poéticas, com suas curvas, buracos, vazios e a brisa a embalar as flores... Estrada que denuncia sem cerimônia o ente desejado... que exige de nós pedágio para chegarmos até ele, que tenta nos preparar para o encontro.
E a paisagem, por mais surreal que seja, é sempre feita de sonhos... aqui e ali uns cheios de esperança, mas noutro ponto, sonhos que foram despedaçados. As pedras do caminho são nossos medos, preocupações e os buracos, nossos próprios vazios e traumas (porque pode ser que tenha faltado carinho, atenção, maturidade, doação, liberdade, auto-conhecimento...). Mas tem também a brisa que é a esperança, que embala as flores das alegrias vividas.
E não deveria ser essa a dinâmica da vida? Uma caminho, uma preparação?
Pra quê tantas respostas, se o que vale é a poesia?
É a poesia da vida que dita o compasso de nossos desejos... que revela o salgado e o agri-doce, a pimenta e o limão, o doce e o amargo de nossas experiências.
E a gente vai caminhando... desejando... compondo poesia de vida-real.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Dádiva *


A vida segue o seu curso e a gente descobre que se envolveu numa divina aventura, dessas que são marcadas pela diversidade dos encontros. Quando elas se realizam é que podemos entender o significado da palavra "dádiva".
Geralmente, desejamos coisas impossíveis, pois acreditamos em um Deus que pode tudo. Mas na maioria das vezes nos falta coragem e nossa ousadia se limita em pedir somente o necessário. É quando Ele nos surpreende com medidas que não merecemos... ficamos mudos, sem saber o que dizer... e vemos Deus nos socorrer com seu sorriso... Dentre todos os sorrisos, talvez o mais bonito seja o de agora, o dessa graça atual que nos envolve. É o que toca fundo na gente, que remexe os sentimentos, que faz refletir...
E quantas dádivas essa menina recebe a cada dia! Talvez em ela faça idéia...
A grande dádiva recebida, pela qual restam à menina infinitos agradecimentos, é a de um dia ter encontrado no Edi um irmão e isso ela fez questão de lhe dizer... Mas em tantas outras dádivas, nessa semana, podemos destacar as entregas do Compa e do Josezinho, que se renovam por mais um ano... quanta luz o “dar a vida” deles gera na vida da menina e de tantos outros!
Mas bem sabemos que existem dádivas que não combinam com palavras, pois foram feitos para o silêncio... e aqui cabem as despedidas, mesmo que temporárias, e as celebrações... Ainda assim a menina arrisca em dizer, mesmo que acabe se perdendo... E descobre que é melhor recorrer às realidades que falam sem precisar dizer...
Chega o tempo da saudade e da gratidão...
Saudade talvez seja bem mais que o desejo de estar junto outra vez... mas o imperativo de que o amor vivido não se perca com o tempo. Gratidão é alimento necessário a alma... e quanta luz, quantos motivos a agradecer... a Deus por eles e a eles pela abertura à ação de Deus: um obrigada infinito, como o da Jovem de Trento!
Por isso o girassol... para lembrar a luz... para deixar que na luz ecoe o obrigada da menina... para que não queiramos doar outra coisa, para que não nos atrevamos a mirar outra coisa... somente a Luz!

*adaptado da carta da menina ao Edi.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Por quê?

Ah, Deus! Tem coisas que a menina gostaria de saber e talvez só em você encontre resposta...
Se você rasgasse os céus e descesse... O que faria por quem sofreu violência psicológica, por quem é violentado em sua integridade física e moral, por que é refém de problemas sociais que se instauram em suas casas e não querem mais sair? Que palavras de consolo a menina poderia usar para lhes recuperar o ânimo e a esperança?
Se você rasgasse os céus e descesse, deveria vir com tempo para secar as lágrimas de quem as aprisionou, por não suportar que sua saída cortasse mais profundo que uma faca; e aproveita também para ensinar a não retê-las, por mais doloroso que seja... Distribua ombros, nos quais se possa chorar e reclamar abrigo e que tragam consigo olhar tão amoroso, ao ponto de impedir que não se saiba o que é sentir pena; arrume ouvidos capazes de escutar os mais pesarosos lamentos, sem se perder, acompanhado de boca que saiba indicar uma revolta pacífica, que sugira sempre a luz, mesmo se todos os caminhos conduzirem às trevas... providencie seres incapazes de violência.
Se você rasgar os céus e descer, deverá vir com rosas brancas e curativos coloridos nas mãos, com ataduras e enchimentos que tapem os buracos que a violência da vida abre cotidianamente... Traga embrulhado para presente, para preencher o vazio dessas almas-queijo-suíço, um bom motivo para que continuem a viver, com recheio de disposição e muita coragem, para que tomem nova dose todo dia...
Mas você veio e se deixou violentar também... chegou na fraqueza do pobre menino que fugia à morte... foi homem-queijo-suíço-abandonado no corpo e na alma... humanidade que ainda hoje espera consolo...
Por quê?
Ah, Deus! Se você viesse outra vez... o que iria dizer à menina, dessas coisas que só em você existe resposta...?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Surpresas

A menina entendeu, e espera que o compa também, rsrs... que não se pode perder a esperança jamais... que devemos leva-la conosco até o fim, porque é justamente no fim que as surpresas acontecem, aprendeu que devemos morrer com ela...
Talvez Deus esteja esperando apenas aquele nosso esforço último, aquela gotinha que faltava pra transbordar o copo, o nosso limite... com a diferença de que ele conhece muito bem qual é, enquanto que nós nunca temos a clareza de o termos atingido ou não. E o pior é que na hora da dor e do desespero a gente sempre quer antecipar nossos limites... burricos que somos.Mas a verdade é que eles chegam e surpreendem a nossa resistência: continuamos vivos!
É quando percebemos que, para quem acredita, não existe o impossível ou insuperável. Não há incoerência nenhuma no fato de a galinha botar ovos quadrados, a vaca tossir, o cachorro falar e o passarinho mugir... De repente, basta que se dê um último suspiro e olhe para o lado de olhos bem abertos: lá estão eles em coro... e a nossa cara de pateta por ter desacreditado.
Tem coisas na vida que acontecem somente para que a menina não deixe de acreditar e não perca a esperança na vida...
Mas no fundo ela sabia que os bichinhos colaborariam com esta surpresa feliz!! Hehe...